///RIOS.FORÇA.FLUXO , 2021

LIVRO INTERATIVO

Kōdos | Fernanda Oliveira e Claudio Filho


OLIVEIRA, Fernanda; MELO FILHO; Claudio de. Rios, força, fluxo. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas,  ano 8, n. 20. abril 2021. 

Disponível em: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/rios-forca-fluxo/


Criar um espaço-rio com o fluxo de rastros-memória reunidos através de nossas experiências, pelas quais fomos inundados por sua força – física e virtual – e sua destruição. Esta sentença dita o tom desta obra. Pensar sobre rios é fazer-perceber seu fluxo, um convite à intencionalidade de seus movimentos e de seus rastros. Anna Lowenhaupt Tsing chama de “perturbação lenta” certa característica do tempo antropoceno. Para ela, “nossa época é um tempo de emergências contaminadas, paisagens que surgem com o rastro residual da destruição ambiental, da conquista imperial, dos fins lucrativos, do racismo e da norma autoritária – assim como do devir criativo” (TSING, 2019, p.23). A antropóloga americana refere-se a paisagens que nutrem colaborações inusitadas de uma paisagem contaminada, ou seja, certos ecossistemas antropogênicos nos quais diversas espécies coabitam. De certo modo, este é o pensamento que circunda esta obra. Não o de reivindicar uma paisagem ou de refutar um espaço, mas de revelar uma existência-rio, de imaginar uma perturbação-lenta possível através dos rastros de nossas experiências (imagens de bancos de dados pessoais). Para nós, imaginar perturbação-lenta foi construir um espaço geográfico-poético de rios a partir da união de nossos confrontos individuais. Memórias ativadas pelo olhar, o que faz ganhar vida ao seguir o fluxo deste atravessamento. O caminho é o das possibilidades de encontros contaminados guiados pelo jogo de palavras força-fluxo. A noção de rastro é essencial para este trabalho, mas aqui inverte-se a lógica. Ao invés de esperarmos a enxurrada passar para colher seus rastros, foi a partir dos rastros – da perturbação – que construímos o espaço-rio. Imagens escolhidas por seu chamado, combinadas às suas coordenadas geográficas oficiais dispostas pela combinação de três palavras. Uma poesia geolocalizada se forma em um espaço sem espaço que flerta com o físico, mas sua existência é apenas uma possibilidade. A forma geográfica deste trabalho foi possível através do aplicativo ///What3words: um sistema de geolocalização para a comunicação, com a resolução de três metros quadrados. Cada localização ao redor do globo é composta por três palavras permanentes. Contudo, ///rios.força.fluxo não corresponde a lugar algum. Uma agradável coincidência.